Cachorro com Diarreia: Principais Causas e Tratamento Caseiro

Você percebeu que seu cachorro está fazendo cocô mais mole que o normal? As fezes dele estão completamente líquidas ou com um cheiro diferente do habitual? Se a resposta é sim, provavelmente você está lidando com um episódio de diarreia. Embora seja algo relativamente comum na vida dos cães, entender as causas e saber como agir faz toda a diferença para o bem-estar do seu peludo.

A boa notícia é que nem sempre a diarreia significa algo grave. Na maioria das vezes, trata-se de uma resposta do organismo a algum alimento inadequado ou mudança na rotina. Porém, existem situações que exigem atenção veterinária imediata. Neste artigo, vamos explorar tudo o que você precisa saber para cuidar do seu cão nesse momento delicado.

O que é diarreia canina, afinal?

Antes de mais nada, é fundamental compreender que a diarreia não é uma doença por si só. Ela é um sintoma, um sinal de que algo está incomodando o sistema digestivo do seu cachorro. Quando isso acontece, o intestino reage eliminando mais água junto com as fezes, resultando naquela consistência líquida ou pastosa que preocupa qualquer tutor.

O sistema digestivo dos cães é bastante sensível. Qualquer alteração na alimentação, presença de parasitas, estresse ou até mesmo uma virose pode desencadear esse quadro. Por isso, observar outros sintomas além da diarreia é essencial para avaliar a gravidade da situação.

Principais causas de diarreia em cachorros

Mudanças bruscas na alimentação

Esta é, sem dúvida, uma das causas mais frequentes. Trocar a ração do seu cão de uma hora para outra é um convite para problemas digestivos. O intestino dele precisa de tempo para se adaptar a novos ingredientes e composições nutricionais.

Além da mudança de ração, oferecer petiscos diferentes ou alimentos humanos também pode provocar diarreia. Aquele pedacinho de queijo, o restinho de frango temperado ou até mesmo um biscoito recheado podem ser verdadeiros vilões para o estômago canino. Os cães não processam gorduras, temperos e condimentos da mesma forma que nós.

Outro problema comum acontece quando o cachorro invade a lixeira ou encontra algo interessante durante o passeio. Comida estragada, restos com mofo ou alimentos tóxicos para cães (como chocolate, cebola e uva) causam não apenas diarreia, mas podem levar a quadros de intoxicação séria. A ASPCA mantém uma lista abrangente de substâncias tóxicas para animais de estimação.

Parasitas intestinais

Vermes e protozoários são vilões silenciosos que afetam milhares de cães todos os anos. A giárdia, por exemplo, é um protozoário microscópico que causa diarreia persistente, muitas vezes com aspecto gorduroso e odor especialmente desagradável. Segundo a Cornell University College of Veterinary Medicine, parasitas intestinais são uma causa frequente de distúrbios digestivos em animais de estimação.

Já os vermes intestinais, como lombrigas e ancilóstomos, se alimentam dentro do intestino do cão, causando irritação na mucosa e alterando a absorção de nutrientes. Filhotes são especialmente vulneráveis a esses parasitas, que podem ser transmitidos até mesmo pela mãe durante a gestação ou amamentação.

A vermifugação regular é a melhor forma de prevenir esse tipo de problema. Converse com seu veterinário sobre o protocolo mais adequado para a idade e estilo de vida do seu cão.

Infecções virais e bacterianas

Algumas infecções são particularmente perigosas e exigem tratamento urgente. A parvovirose, por exemplo, é uma doença viral grave que afeta principalmente filhotes não vacinados. Ela causa diarreia intensa, muitas vezes com sangue, além de vômitos e desidratação rápida. O American Kennel Club oferece informações detalhadas sobre esta doença devastadora.

Infecções bacterianas, como as causadas por Salmonella ou E. coli, também provocam diarreia. Geralmente, esses casos vêm acompanhados de outros sintomas como febre, perda de apetite e prostração.

A vacinação em dia é a principal arma contra essas doenças. O protocolo vacinal básico protege contra várias viroses que causam problemas intestinais graves.

Estresse e ansiedade

Pode parecer estranho, mas sim, o emocional do seu cachorro influencia diretamente o funcionamento do intestino dele. Situações estressantes como mudança de casa, chegada de um bebê na família, viagens, hospedagem em hotéis caninos ou até mesmo fogos de artifício podem desencadear episódios de diarreia.

O sistema nervoso e o sistema digestivo estão intimamente conectados. Quando o cão fica ansioso, o corpo libera hormônios que podem acelerar o trânsito intestinal, resultando em fezes mais líquidas.

Cães com ansiedade de separação, por exemplo, frequentemente apresentam diarreia quando os tutores saem de casa. Nesses casos, trabalhar o emocional do animal com técnicas de adestramento positivo pode resolver não apenas o problema comportamental, mas também o intestinal.

Intolerâncias e alergias alimentares

Assim como algumas pessoas têm intolerância à lactose, alguns cães não conseguem digerir determinados ingredientes. O leite de vaca é um exemplo clássico: muitos cães adultos perdem a capacidade de produzir a enzima que quebra a lactose, resultando em diarreia após o consumo.

Alergias alimentares também podem se manifestar através de problemas intestinais. Proteínas como frango, carne bovina ou grãos específicos podem causar reações em cães predispostos. Nesses casos, além da diarreia, é comum observar coceira, lambedura excessiva nas patas e problemas de pele.

Identificar uma alergia ou intolerância alimentar exige paciência e, geralmente, uma dieta de eliminação supervisionada pelo veterinário.

Doenças inflamatórias e outras condições

Algumas condições médicas mais complexas também causam diarreia crônica ou recorrente. A doença inflamatória intestinal (DII), por exemplo, é uma condição onde o sistema imunológico ataca o próprio intestino, causando inflamação constante.

Pancreatite, problemas no fígado, insuficiência renal e até certos tipos de câncer podem se manifestar inicialmente através de alterações nas fezes. Por isso, diarreias persistentes ou que voltam com frequência merecem investigação detalhada.

Como identificar a gravidade do problema

Nem toda diarreia é motivo para desespero, mas saber diferenciar um episódio leve de uma situação grave pode salvar a vida do seu cachorro. Vamos aos sinais:

Diarreia leve (monitorar em casa)

  • O cão continua comendo normalmente
  • Está ativo, brincalhão e alerta
  • Bebe água regularmente
  • As fezes estão mais moles, mas sem sangue
  • Não há vômitos
  • O episódio começou há poucas horas
  • Você consegue relacionar com algo que ele comeu

Nesses casos, você pode aplicar os cuidados caseiros que vamos detalhar mais adiante e observar a evolução nas próximas horas.

Diarreia grave (buscar veterinário imediatamente)

  • Presença de sangue vermelho vivo ou fezes pretas tipo borra de café
  • Vômitos frequentes junto com a diarreia
  • Prostração, apatia ou recusa total de comida
  • Sinais de dor abdominal (gemidos, postura curvada, barriga tensa)
  • Desidratação visível (gengivas secas e pegajosas, olhos fundos)
  • Filhote com menos de seis meses
  • Cão idoso ou com doenças crônicas
  • Diarreia que persiste por mais de 24-48 horas
  • Volume muito grande de fezes líquidas em pouco tempo

Atenção especial para filhotes e cães de raças pequenas: eles desidratam muito rapidamente e podem desenvolver hipoglicemia. Qualquer alteração intestinal nesses grupos merece avaliação veterinária rápida.

Tratamento caseiro para diarreia leve

Quando a situação não apresenta sinais de gravidade, você pode adotar algumas medidas em casa para ajudar seu cachorro a se recuperar. Lembrando sempre: isso não substitui a avaliação veterinária em casos duvidosos.

Hidratação é prioridade absoluta

Quando o cachorro tem diarreia, perde não apenas água, mas também eletrólitos importantes como sódio e potássio. Por isso, garantir que ele esteja bebendo água é fundamental.

Deixe vários potinhos de água fresca e limpa espalhados pela casa. Se ele não estiver bebendo espontaneamente, ofereça água com uma seringa (sem agulha) diretamente na boca, em pequenas quantidades de cada vez. Alguns cães aceitam melhor água misturada com um pouquinho de caldo de frango caseiro sem tempero.

Se você notar que ele continua não bebendo ou mostra sinais de desidratação (gengiva seca, elasticidade da pele diminuída), é hora de procurar o veterinário. Casos mais graves podem precisar de soro subcutâneo ou intravenoso.

Jejum estratégico

Para cães adultos saudáveis, fazer um jejum de 12 a 24 horas pode ajudar o intestino a descansar e se recuperar. Durante esse período, o sistema digestivo tem tempo de se reorganizar sem precisar processar novos alimentos.

Importante: essa recomendação não vale para filhotes, cães idosos, animais muito pequenos ou cães com doenças crônicas como diabetes. Nesses casos, o jejum pode causar mais problemas que soluções, especialmente hipoglicemia.

Durante o jejum, a água continua liberada e deve ser oferecida à vontade.

Dieta branda e de fácil digestão

Depois do jejum (ou imediatamente, se o jejum não for apropriado para o seu cão), é hora de introduzir uma alimentação leve e suave para o estômago.

A combinação clássica é arroz branco bem cozido com frango desfiado sem pele. O arroz fornece carboidratos de fácil absorção que ajudam a dar consistência às fezes, enquanto o frango oferece proteína magra. Importante: nada de temperos, óleo ou sal. Apenas cozinhe em água pura. A VCA Animal Hospitals recomenda essa dieta como parte do tratamento inicial para casos leves.

Outras opções incluem:

Batata-doce ou abóbora cozida: ricas em fibras solúveis que ajudam a regular o trânsito intestinal e absorver o excesso de água nas fezes.

Carne moída magra cozida: outra fonte de proteína leve. Escolha carne com o mínimo de gordura possível.

Cenoura cozida: pode ser adicionada em pequenas quantidades, pois contém fibras benéficas.

Ofereça pequenas porções várias vezes ao dia, em vez de uma ou duas refeições grandes. Isso facilita a digestão e evita sobrecarregar o intestino.

Reintrodução gradual da ração

Assim que as fezes começarem a se firmar e o cachorro voltar ao comportamento normal, é hora de retornar à alimentação habitual. Mas atenção: nunca faça isso de forma abrupta.

Siga um esquema de transição gradual ao longo de 3 a 5 dias:

Dias 1-2: 75% da dieta branda + 25% da ração normal

Dias 3-4: 50% da dieta branda + 50% da ração normal

Dias 5-6: 25% da dieta branda + 75% da ração normal

Dia 7 em diante: 100% ração normal

Se em qualquer momento da transição a diarreia voltar, dê um passo atrás e mantenha a proporção anterior por mais alguns dias antes de avançar novamente.

Probióticos para restaurar a flora intestinal

Os probióticos são bactérias benéficas que vivem naturalmente no intestino e ajudam na digestão. Quando há diarreia, essa população de “bactérias do bem” fica desequilibrada.

Existem probióticos específicos para cães disponíveis em pet shops e clínicas veterinárias. Alguns vêm em forma de pó para misturar na comida, outros em pasta ou cápsulas.

Uma opção caseira é oferecer um pouco de iogurte natural sem açúcar (cerca de uma colher de sopa para cães médios). No entanto, verifique se seu cão não tem intolerância à lactose antes de oferecer laticínios.

Outra possibilidade é o kefir, que contém uma variedade ainda maior de probióticos que o iogurte convencional. Comece com quantidades pequenas para ver como o organismo dele reage.

Quando correr para o veterinário

Mesmo que você esteja fazendo tudo certo em casa, alguns sinais indicam que a situação está fugindo do controle e precisa de intervenção profissional:

Sangue nas fezes: seja vermelho vivo (indicando sangramento no intestino grosso ou reto) ou fezes pretas tipo borra de café (sugerindo sangramento no estômago ou intestino delgado). Ambos são sinais de alerta.

Vômitos persistentes: quando vêm junto com a diarreia, indicam que o problema não está apenas no intestino. A desidratação acontece muito mais rápido nesses casos.

Mudança de comportamento: se o cão que antes era animado agora está prostrado, escondido, relutante em se levantar ou demonstrando dor ao ser tocado na barriga, algo mais sério pode estar acontecendo.

Febre: orelhas muito quentes, nariz seco e quente, tremores podem indicar febre. Cães com febre e diarreia provavelmente têm uma infecção.

Desidratação progressiva: teste a elasticidade da pele puxando suavemente a pele do pescoço. Se ela não voltar rapidamente ao lugar, há desidratação significativa.

Ingestão de toxinas ou objetos: se você viu ou suspeita que o cão comeu algo tóxico (plantas venenosas, produtos de limpeza, medicamentos humanos) ou engoliu um objeto (brinquedo pequeno, pedaço de pano), não espere pelos sintomas piorarem.

Persistência do quadro: se após 48 horas de cuidados caseiros a diarreia não melhorou ou está piorando, a causa pode ser mais complexa do que você imagina.

Filhotes e cães de risco: como mencionado antes, filhotes, idosos e cães com doenças prévias não podem esperar. A margem de erro com eles é muito menor.

Prevenção: como evitar que a diarreia volte

Depois de passar por um episódio de diarreia com seu cachorro, você certamente não quer repetir a experiência. Algumas práticas simples ajudam a manter o intestino dele saudável:

Transição alimentar adequada

Sempre que precisar trocar a ração do seu cão, faça isso de forma gradual ao longo de 7 a 10 dias. Misture a nova ração à antiga, aumentando progressivamente a proporção da nova até completar a substituição.

Isso vale também para mudanças de sabor dentro da mesma marca ou troca de ração seca para úmida. O intestino precisa desse tempo de adaptação.

Controle rigoroso da dieta

Resista à tentação de oferecer comida humana ao seu cachorro, por mais que ele faça aquela carinha irresistível. Muitos alimentos que comemos são inadequados ou até tóxicos para cães.

Mantenha o lixo fora do alcance dele e durante os passeios, fique atento para evitar que ele coma coisas do chão. Ensinar o comando “larga” pode ser extremamente útil nessas situações.

Vermifugação e vacinação em dia

Siga rigorosamente o calendário de vermifugação recomendado pelo veterinário. Filhotes precisam ser vermifugados com mais frequência, enquanto adultos geralmente fazem o controle a cada 3 ou 6 meses.

As vacinas protegem contra várias doenças graves que causam diarreia. Mantenha o cartão de vacinação atualizado e não pule as doses de reforço anuais.

Ambiente calmo e rotina estável

Cães são animais de hábitos. Manter uma rotina previsível de horários de alimentação, passeios e descanso ajuda a reduzir o estresse, que como vimos, pode desencadear problemas digestivos.

Se mudanças inevitáveis forem acontecer (mudança de casa, chegada de um novo membro na família), tente fazer a transição da forma mais suave possível, mantendo alguns elementos familiares ao redor do cão.

Qualidade da alimentação

Invista em uma ração de boa qualidade, apropriada para a idade, porte e necessidades específicas do seu cachorro. Rações premium e super premium geralmente têm ingredientes mais digestíveis e menos aditivos que podem causar reações.

Respeite a quantidade recomendada na embalagem de acordo com o peso do animal. Excesso de comida também pode causar problemas digestivos.

Observação constante

Conheça os hábitos intestinais do seu cachorro. Quantas vezes por dia ele normalmente faz cocô? Qual a consistência usual? Que cor costuma ter? Essas informações são valiosas para identificar rapidamente quando algo está fora do normal.

Durante os passeios, sempre observe as fezes. Pode não ser a tarefa mais glamourosa de ser tutor, mas é uma das mais importantes para monitorar a saúde dele.

Perguntas comuns sobre diarreia em cachorros

Posso dar remédio de humano para o meu cachorro?

Jamais medique seu cão sem orientação veterinária. Medicamentos como Imosec, Buscopan e outros antidiarreicos humanos podem ser perigosos para cães. A dose, a composição e os efeitos colaterais são completamente diferentes. O que parece inofensivo para nós pode intoxicar um cachorro.

Água de arroz funciona?

A água de arroz (aquela água esbranquiçada que sobra após cozinhar o arroz) pode ajudar sim. Ela contém amido que tem propriedade adstringente leve, podendo ajudar a firmar as fezes. Ofereça fresca e em temperatura ambiente.

Posso dar chá de camomila?

Camomila tem propriedades calmantes e anti-inflamatórias suaves que podem ajudar em casos leves. Prepare um chá bem fraco (sem açúcar, é claro) e ofereça morno. Mas não substitua isso pelo acompanhamento veterinário se necessário.

Quanto tempo é normal ter diarreia?

Um episódio isolado que melhora em 24 horas geralmente não é preocupante. Se passar de 48 horas ou se houver piora progressiva, procure ajuda profissional.

Diarreia pode matar?

Em casos extremos, sim. A desidratação severa causada por diarreia intensa pode levar a falência de órgãos, especialmente em filhotes e cães pequenos. Por isso os sinais de alerta não devem ser ignorados.

Filhotes com diarreia precisam de atenção especial?

Absolutamente. Filhotes têm reservas corporais muito menores e se desidratam rapidamente. Além disso, são mais vulneráveis a doenças graves como a parvovirose. Qualquer diarreia em filhote deve ser avaliada por veterinário.

Meu cachorro tem diarreia toda vez que fica nervoso. É normal?

Alguns cães realmente desenvolvem diarreia emocional. Embora seja uma resposta fisiológica real ao estresse, vale investigar com o veterinário para descartar outros problemas e, se confirmado, trabalhar o emocional do animal com técnicas adequadas.

Cuidando do seu melhor amigo

Lidar com um cachorro com diarreia pode ser estressante e preocupante, mas agora você está equipado com informações para agir com segurança. Lembre-se de que cada caso é único: o que funciona para um cachorro pode não ser adequado para outro.

O mais importante é conhecer bem o seu pet, estar atento aos sinais que ele dá e não hesitar em buscar ajuda profissional quando necessário. Veterinários são os profissionais capacitados para diagnosticar e tratar adequadamente qualquer problema de saúde.

Enquanto isso, proporcione um ambiente tranquilo, ofereça bastante carinho (e água fresca), e tenha paciência durante a recuperação. Na maioria dos casos, com os cuidados certos, seu companheiro peludo voltará a correr, pular e bagunçar pela casa em poucos dias.

A relação entre tutor e cachorro é feita desses momentos também, dos cuidados nos dias difíceis. E cada vez que você ajuda seu peludo a superar um problema de saúde, o vínculo entre vocês fica ainda mais forte.

Cuide bem do seu amigo de quatro patas. Ele confia em você para isso.

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